Sobre a obra

_____

Alfredo Fressia

Alfredo Fressia escreve sobre “O Dono do Mar” • Poeta, escritor, ensaísta, tradutor e crítico literário. El Pais, Montevideo, 12 de abril de 1996 Diálogo universal da condição humana Começar uma novela com um sonoro insulto “Capitão?, Capitão é a puta que o pariu” pode não ser tão original na literatura latino-americana, desde o chamado boom. Mas que o insulto venha seguido pela contida emoção do relato de um padre que lava e prepara o corpo do filho assassinado, com o infinito amor paterno, criado a partir de cada detalhe desse corpo lentamente lavado, isso sim é literalmente audaz. O Capitão, “título dado pelo mar”, que não aceita ser chamado assim às sextas-feiras, o dia da semana que marcará os grandes acontecimentos de sua vida, é Antão Cristório, um pescador maranhense. E esse apaixonante romance sobre a pesca e o mar é O Dono do Mar, de José Sarney (Pinheiros,

Saiba mais »

Alfredo Fressia

Alfredo Fressia • Ensaísta e crítico literário. El País, Madri, 12 de janeiro de 2001 Sarney, a selva alucinada Devo confessar: não sei ler a obra narrativa de um político profissional com a inocência, com a devida “suspensão voluntária do descrédito”, que Coleridge pedia ao leitor. Ao contrário, trata-se sempre de uma leitura instalada em uma zona rarefeita de poderes: ao poder que exerce todo narrador, esse pequeno deus que cria mundos com a palavra, agregam-se outros, espúrios, literariamente pouco solidários, que emanam do exercício político e decisório, de uma biografia autoral crispada por simpatias ou por ódios e até de um quase inevitável cotejo entre o “como conta” e o “como governa” o mesmo homem. A literatura de José Sarney sofre desse mal, aparentemente irremediável, pelo menos enquanto durar a biografia política do autor. […] É por isso que a cada novo livro do ex-presidente e atual senador, a

Saiba mais »

Gregory Rabassa

Gregory Rabassa • Tradutor de Julio Cortázar, Jorge Amado e Gabriel García Márquez. Em: If This Be Treason — Translation and its Contents: a Memoir: Gregory Rabassa. Editora New Directions, 2005, pp. 180 a 182 Saraminda No momento, estou trabalhando no segundo romance de Sarney, Saraminda, que é bem diferente do primeiro e trata da corrida do ouro na região fronteiriça entre o Brasil e a Guiana Francesa, uma área que já foi disputada pelos dois países. Se O Dono do Mar me fazia trabalhar em busca dos equivalentes para termos de pesca e marítimos, agora fico alerta para aqueles referentes à prospecção e ao garimpo de ouro. Saraminda é o nome de uma garota créole da Guiana Francesa, trazida para os garimpos de ouro por um garimpeiro brasileiro que possui um campo razoável no qual trabalham várias pessoas. Saraminda tem qualidades mágicas, o que conecta este romance ao anterior

Saiba mais »

Claude Lévi-Strauss

Claude Lévi-Strauss escreve sobre “A Duquesa vale uma Missa” • Da Academia Francesa. 11 de outubro de 2007 Incisiva e emocionante A Duquesa Vale uma Missa parece-me uma espécie de interlúdio na obra de José Sarney. Seu conhecimento do Nordeste e suas evocações cheias de lirismo dão lugar a uma intriga ora incisiva, ora emocionante, expressão simbólica de problemas contemporâneos. Mas, ao mesmo tempo, um motivo constante de sua obra se afirma aqui, que consiste, parece-me, na irrupção do passado no coração do presente. Essa leitura cativou-me.

Saiba mais »

Carlos Heitor Cony

“Saraminda: a terra e o ouro” por Carlos Heitor Cony • Da Academia Brasileira de Letras. Prefácio da 1a Edição, 2000 Saraminda: A Terra e o Ouro O ouro era demais. Dava para todos. Deus misturava terra e ouro. E Saraminda era feita de terra e ouro. A melhor apresentação para o romance de José Sarney é o próprio livro. Uma história penetrada de magia e realidade, o ambiente feroz do Contestado, brasileiros e franceses e se amando na pátria sem bandeira do ouro fácil e maldito. A terra que tem ouro só se abre com a cor vermelha. Foi preciso degolar três homens em dois dias, para saciar a fome da terra e aparecer o ouro. Fugindo da linearidade do romance tradicional, Sarney conta a história de Saraminda, oito vezes virgem, oito vezes puta. Comprada a peso de ouro, traz nos olhos verdes e nos seios dourados o prazer

Saiba mais »

Carlos Nejar

Carlos Nejar • Da Academia Brasileira de Letras. Em 10 de setembro 2007 As teias da história e da arte A Duquesa Vale uma Missa, de José Sarney, amplia sua dimensão romanesca, a partir do destino de um personagem problemático, complicado. Mais ainda com a morte e enterro do pai. Por meio de uma conjugação habilíssima entre história, erudição e conhecimento pictórico, veem à baila o rei Henrique IV e sua amante Gabrielle, entre injunções religiosas e políticas. De marcante originalidade. E o personagem que também faz parte do enredo é um Quadro, deixado no espólio de seu finado pai — o quadro da duquesa de Villars e de Gabrielle d’Estrées, pintado entre 1596 e 1610. O romance consegue aliar as teias da história com as da arte do engano e da falsificação, prendendo o leitor na sabedoria de uma concisa construção ficcional, que não deixa de ser dramática e

Saiba mais »

Valquíria Wey

Valquíria Wey • Tradutora e professora. Cidade do México, 10 de maio de 2010 Um exercício de provocação erótica Devorei A Duquesa Vale uma Missa num fim de semana. Gostei muito. Adoro os enigmas simbólicos ou históricos dos quadros dos séculos XVI e XVII. Depois, as dificuldades dos enigmas acabam e os quadros famosos ganham complexidades da linguagem das artes plásticas e perdem os segredos das mensagens verbais encriptadas. Gostei muito de como Sarney colocou a alucinação com o quadro que é realmente misterioso e altamente erótico, no seio de uma família brasileira pouco sofisticada, porque arte fala a todos, não é? Achei irônica e engraçada a ideia de um espólio enriquecido pelo “ouro de Moscou”, aquele que achávamos que não existia. Sarney é cada vez mais uma surpresa. Lembra o Memorial de Ayres onde Machado de Assis coloca o Conselheiro, que já fez sessenta anos, a matutar se a

Saiba mais »