Sobre a obra

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Carlos Zarur: sobre “Crônicas do Brasil contemporâneo”

Carlos Zarur • Jornalista. Artigo publicado no caderno Pensar do jornal Correio Braziliense As Crônicas de Sarney Acabo de ler as Crônicas do Brasil contemporâneo do jornalista, escritor, intelectual, cronista e, também, político, José Sarney. Um atento olhar sobre a realidade nos artigos que foram publicados na Folha de São Paulo entre os anos de 1988 e 2002. O estilo, quase sempre sereno como o autor, pode, repentinamente, cortar como navalha aprofundando a discussão de delicados problemas. Logo no início, é importante a constatação crítica de que “a arte da política, com P grande, vai se tornando difícil”. O autor lembra que o primeiro que usou esse termo com “P grande” foi Joaquim Nabuco, em seu livro Minha Formação. Essa crônica é atualíssima, pois discute se fazer boa política é “ficar exclusivamente algemado pela concepção de que todos os problemas do homem se resumem no econômico”. Com contundência, o Senador

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Antônio Carlos Villaça: sobre “Norte das Águas”

Antônio Carlos Villaça • Crítico literário. Prefácio da 4a edição, 1993 Sem pão e sem medo Norte das Águas, de José Sarney, apareceu em 1970. Guimarães Rosa morrera em novembro de 1967. José Cândido de Carvalho publicara O Coronel e o Lobisomem, em 1964. Josué Montello disse muito bem que José Sarney está para o Maranhão como Simões Lopes Neto está para o Rio Grande do Sul e o primeiro Afonso Arinos está para Minas Gerais. Entenda-se. A pura identificação do escritor com a sua terra, com o seu povo. O Maranhão é a matéria e o sentido da sua obra de ficcionista. Norte das Águas é, assim, a revelação do escritor, no plano da literatura regional. E Josué pondera — “Literatura regional que, por seu valor e sua modernidade, tem circulação nacional.” Regionalismo que se integra naquele brasileirismo, de que nos falava Tristão de Athayde no seu admirável estudo

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Josué Montello: sobre “Norte das Águas”

Josué Montello • Da Academia Brasileira de Letras. Prefácio da 2a edição (1980) Norte das Águas O autor deste livro conquistou renome internacional na vida pública brasileira — primeiro, como deputado federal, em seguida como governador do seu estado natal, o Maranhão; mais tarde, como senador, presidente da Arena e do PDS. Ou seja, um líder político indiscutível. Se José Sarney não tivesse escolhido o caminho político para conseguir destaque no plano nacional, poderia ter feito isso, e bem antes, no campo da literatura, com sua pena de grande escritor. O que este livro de contos regionais vem comprovar. Quando assumiu o governo do Maranhão, José Sarney foi eleito também para a presidência da Academia Maranhense. Mas, na realidade, nem seu jeito de fazer política era usual, nem seu estilo de escrever era acadêmico, no sentido de ser clássico ou convencional. Como governador, no plano da vida econômica e administrativa

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Lago Burnett: sobre “Norte das Águas”

Lago Burnett • Da Academia Maranhense de Letras. Prefácio. Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 1985 Um Político no Reino da Fábula As inevitáveis comparações entre o escritor e o político que coabitam numa personalidade complexa como a de José Sarney convergem sistematicamente para um julgamento apoiado em padrões convencionais de competitividade: a consagração de um e a condenação do outro. Essa relutância em aceitar que político e escritor se completam, vem postergando uma definição em torno da obra que José Sarney realiza simultaneamente na vida pública como no âmbito literário. Aos que ainda cultivam a superstição de que a literatura enfraquece a atividade política, ele responde com as conquistas sucessivas de uma escalada segura no rumo das mais altas posições na República. Aos que se apegam ao lugar-comum de que o exercício da política sufoca a criatividade artística — fugindo assim à evidência de reconhecer-lhe os méritos do

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Lucy Teixeira: sobre “Norte das Águas”

Lucy Teixeira • Da Academia Maranhense de Letras. Prefácio da 2a edição, 1980 Intenso lirismo As histórias que o escritor José Sarney reuniu em seu livro de estreia, Norte das Águas, serão aqui examinadas no sentido de relevar-se a consequência ficcional do livro e sua intenção narrativa. Por outro lado, ao situar sua presença dentro do regionalismo nacional, seremos tentados a fazer uma leitura crítica de Os Boastardes (segunda história  e o Norte das Águas) à maneira de Northrop Frye, tão visíveis para nós são certos arquétipos psicológicos e a presença de uma alegoria que conquistam sem dúvida para o livro valores bem mais graves. Sem prejuízo, porém, da análise de uma impostação regionalista que será naturalmente redimensionada no contexto da literatura brasileira. Trazendo uma solução pessoal à uniformização de nossa língua literária, Guimarães Rosa, com Grande sertão: veredas, criou novas exigências para a temática regionalista. Depois dele, a mesma

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Luiz Gutemberg: sobre “Conversa ao Pé do Rádio”

Luiz Gutemberg • Jornalista e escritor. Brasília, julho de 1989. Prefácio de Conversa ao Pé do Rádio Conversa ao Pé do Rádio Todas as sextas-feiras, às 6 horas da manhã, infalivelmente, desde 25 de outubro de 1985, o presidente da República saudava “brasileiras e brasileiros”, dava-lhes “bom dia” e anunciava ele mesmo estar começando mais uma “conversa ao pé do rádio”. Aconteceu, às vezes, de ele lembrar que falava de Moscou, Buenos Aires, Paris, Washington, São Luís do Maranhão, São Paulo ou de uma remota fronteira da Amazônia. Se por acaso coincidisse de o presidente ter viajado para algum desses lugares, a “Conversa ao pé do rádio” era sempre datada de onde ele estava, no amanhecer das sextas-feiras, não importando se da Semana Santa, ou se coincidisse, como aconteceu em 1987, com o dia do Ano Novo, quando a palavra presidencial ainda encontrou de pé os últimos insones festejadores do

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Ferreira Gullar: sobre “O Dono do Mar”

Ferreira Gullar • Crítico, poeta, ensaísta e tradutor. Prêmio Camões de Literatura — 2010 Abismos do mar e da alma humana Acabo de ler O Dono do Mar de enfiada, interrompendo quando obrigado, mas voltando a ele sempre com interesse. No começo, tive a impressão de que parecia com o rio do romance poético de Jorge Amado, porém essa impressão se desfez ao prosseguir na leitura. É uma coisa de Sarney, do Maranhão, de São Luís. Sem dúvida se trata de um romance poético, mas com tom próprio e que nasce de uma experiência de vida e não de leituras literárias. Além disso, o que impressiona é seu conhecimento da vida do pescador da região, de seu ofício, de seus instrumentos, dos peixes das marés, das intempéries e do próprio mar. Há ali a vivência do mar e da pesca. Mas tudo serve apenas de apoio e contraponto à fabulação

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