Sobre a obra

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Antônio Olinto: sobre “O Dono do Mar”

Antônio Olinto • Da Academia Brasileira de Letras. O Estado do Maranhão, Caderno A, 26 de janeiro de 1996 Personagens vivos e fortes Pouco sabemos dos mistérios da criação literária. Como de qualquer outra criação. Explicações técnicas, temo-as aos montes. Análises sintáticas, melódicas, biológicas, sociais, ou puramente vocabulares, ou sociológicas, psicanalíticas, ou simplesmente ligadas ao adjetivo do momento. Algumas em separado e todas em conjunto, aclaram meandros, facilitam visões particulares, embora possam deixar um lado lunar inatingível. Esses estudos de decomposição revelam às vezes desconhecimento do fenômeno da composição. A autópsia mostra, mas não surpreende a vida em ação. Fica faltando, ao analista puro, uma intimidade maior com aquilo que Bernard Guyon chamava de “o êxtase da concepção literária”. Na apreciação de um romance, um poema, um ensaio, todos os recursos disponíveis podem ser usados, contudo cada obra especifica precisará de um chão. Elemento básico da análise será a terra,

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Gerard de Cortanze: sobre “O Dono do Mar”

Gerard de Cortanze • Escritor, ensaísta, tradutor e crítico literário. “Magazine Littéraire – Paris”, número 363, março de 1998 Homenagem às gentes do mar O mar do Maranhão, no Norte do Brasil, é um cenário cheio de mistérios. Ao longo de um litoral muito recortado, muitas águas embaralham suas correntes. Ao longo de suas baías ricas de uma fauna e uma flora luxuriantes, bancos de areia, canais, manguezais, atóis, barreiras de coral, baixios constituem um universo geográfico onde nascem e se propagam as lendas mais singulares. Há muitas gerações os pescadores desta zona setentrional do Brasil, nas margens de suas bianas e de seus igarités, reencontram um oceano eternamente recomeçado. O livro de José Sarney, político célebre em seu país, onde chegou às mais altas funções de Estado em 1985, que soube sempre conduzir paralelamente sua carreira pública e suas atividades literárias, é, antes de mais nada, uma soberba homenagem

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Léo Gilson Ribeiro: sobre “Norte das Águas”

Léo Gilson Ribeiro • Crítico literário. Prefácio da 2a (1980) e 4a (1993) edições O Maranhão do senador Sarney, o escritor Em São Luís do Maranhão, no palácio dos Leões, quando termina o expediente diário, é comum ressoarem pelas janelas abertas para o azulão rio Anil vozes de cantadores populares ao som de violas. Modinhas que falam de filhas de fazendeiros seduzidas, de coronéis do interior em luta eleitoral e de cangaceiros valentes partindo do palácio do governador estadual. Para o povo do Maranhão, essas melodias fazem parte do encerramento dos trabalhos, quase que se casam com o lento crepúsculo da cidade, com seus sobrados coloniais azulejados e suas ruínas da guerra contra os franceses que ali queriam fundar a France Equatoriale, em 1600. No gabinete de José Sarney, 39 anos, quadros de pintores primitivos maranhenses e estátuas barrocas do Nordeste do século XVIII alternam-se com mapas de estradas que

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Lincoln Paine: sobre “O Dono do Mar”

Lincoln Paine • Escritor, especialista em história marítima. International Journal of Maritime History, XXII, no 1, pgs. 222-223, June 2010 Literatura do Mar e História Marítima Na obra de José Sarney, O Dono do Mar, o pescador Antão Cristório tem como companheiro Aquimundo, encarnação de um piloto chamado Aires Fernandes que morreu afogado, e “em quem o tempo não passou”. Aquimundo conta ao perplexo Cristório, no seu primeiro encontro: Andei por muitas terras, de Sofala, Querimba, Ibo, Pemba, Mombaça, Melinde, Pate, Ormuz, Diu, Goa, Coxim, Malaca, Ceilão, Meliapor, Macau, Timor, e cheguei a Nagasáqui com Francisco Xavier, o padre que hoje é santo, mas que embarcou comigo na nau Amacau, o Navio do Selo Vermelho de Agosto que fazia o caminho do Japão. A isto, Cristório responde simplesmente: “Eu não entendo essa conversa, eu não sei nada do que você fala. Isso é língua enrolada de curacanga.” Que um filho

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José Louzeiro: sobre “Saraminda”

José Louzeiro • Escritor, jornalista e roteirista. O Estado do Maranhão, 5 de novembro de 2000 A importância de Saraminda O mais recente romance de José Sarney, que vem sensibilizando leitores e críticos, é uma obra inovadora. São quatro as trilhas e tramas que dinamizam essa narrativa: — O erótico, de desenho quase litúrgico, elevado ao estágio do sutil; — A instauração de um ciclo especial do inferno chamado garimpo; — Os duendes da mata-virgem que se tornaram anjos protetores  inclusive do romancista; — O passado que condena mas enternece. Saraminda não é apenas um contraponto de Iracema e Capitu, como lembra Carlos Heitor Cony. É bem mais abrangente. Pode e deve ser colocada na galeria das grandes personagens femininas da literatura mundial: Eletra, Julieta, Ana Karenina, Madame Bovary, a ingênua e bela Amélia Caminha, a Amelinha, de O Crime do Padre Amaro. O estilo deste autor é ágil e

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Tereza Cruvinel: sobre “Saraminda”

Tereza Cruvinel • Jornalista.O Globo, Rio de Janeiro, em 19 de junho de 2000 Era uma vez uma mulher de seios de ouro No novo livro de Sarney, há pitadas de realismo fantástico colhidas no imaginário dos garimpos e na tradição oral. A literatura ficará devendo à política a existência de Saraminda, o novo romance de José Sarney. Não fosse haver-se candidatado a uma cadeira do Senado pelo Estado do Amapá em 1991, não teria o ex-Presidente tropeçado nas sobrevivências da luta entre franceses e brasileiros pela posse das terras contestadas, ou nas marcas da febre de ouro que rasgou o ventre daqueles rios e serras no início do século. Havia ali um romance a ser escrito, disse então o escritor ao Senador, pedindo uma pausa. Nos últimos três anos, Sarney não se separou de Saraminda, o livro, mas não fez exatamente uma pausa na política. Escreveu nas madrugadas, fez

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Radu Vladut: sobre “Saraminda”

Radu Vladut • Escritor e jornalista. Em setembro de 2001 Saraminda, a fascinação do inefável Além de suas virtudes literárias certas, Saraminda é um romance de grande atmosfera, na linha trilhada há mais de meio século por Malcolm Lowry com Under the Volcano, cuja ação tem lugar nas mesmas coordenadas geográficas (aproximadamente). Difícil de construir e com um alvo relativamente restrito, tal romance solicita ao máximo o leitor, impondo geralmente uma segunda e até uma terceira leitura para atingir a decifração do ambiente, principalmente, e da linha épica, secundariamente. As personagens, porém, precisam antes de uma abordagem permitida mais para os iniciantes. De caráter romântico, mas com uma ampla transmissão para outros gêneros literários, Saraminda, Cleto Bonfim ou Clément Tamba fogem dos moldes do romance de aventuras ou de amor. Persiste a impressão de que as personagens não poderiam viver e não poderiam amar senão só nesse espaço mágico, no

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